Por Marconi Moura de Lima Burum / Brasil 247/MSN
O dilema de todos:
1) Foi estranho a todos que, no depoimento de Tarcísio de Freitas para o STF no dia 24 de maio, o ministro Alexandre de Moraes tenha agido com toda cordialidade e parcimônia diante dos inúmeros disparates do governador de São Paulo;
2) Com cenas de enorme semelhanças, no dia anterior [23] no mesmo STF, Xandão foi extremamente rude com o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Aldo Rebelo, que também em depoimento proveu diversas falas absurdas aos moldes de Tarcísio;
3) Tchutchuca com um; tigrão com outro! Lógico que a “rádio peão” vai lembrar que: a) Alexandre tem suas origens políticas no PSDB; b) os tucanos são o braço partidário original do neoliberalismo, portanto, os “anões de jardim” da Faria Lima; c) a Faria Lima quer o fantoche Tarcísio como Presidente da República para implementar no Brasil as privatizações e os desmontes do Estado tal como vem estagiando em perfeição na governança de São Paulo; e d) não é pecado pensar que Moraes seria mais simpático em ver eleito um Presidente da República do seu campo político que um candidato de esquerda;
4) Alexandre chegou ao STF indicado por Michel Temer, o que apeou em 2016 Dilma Rousseff da Presidência da República depois de um Golpe parlamentar-jurídico-midiático;
5) Xandão foi o salvador da República de um novo Golpe, agora a tentativa realizada por Bolsonaro e seus asseclas em 2022/2023;
6) Moraes sabe que o temor de um Golpe ainda ronda o Brasil porque o bolsonarismo está muito vivo na sociedade, e que a extrema direita é impiedosa;
7) O bolsonarismo já começa a pensar a hipótese de lançar um candidato forte que tenha condições de vencer o Lula em 2026, porém, a condição de “emprestar” um terço dos eleitores do Brasil para qualquer candidato [que não seja o capitão], segundo a entrevista de Flávio Bolsonaro para a Folha de S. Paulo no último dia 14 de junho, é que este seja “homem” o suficiente para fechar o STF caso não seja “constitucionalizado” o indulto para seu pai;
8) Um indulto a Bolsonaro seria rasgar de uma vez por todas a Constituição Federal e desmoralizar para (quase) sempre as instituições da República;
9) Tarcísio, se de fato quiser ser o candidato da plutocracia [Faria Lima], e das demais oligarquias [como os magnatas da Globo, por exemplo], com alguma chance de vencer o Lula, que tem garantido o outro terço dos eleitores brasileiros, terá de pactuar com o fascismo bolsonarista suas condições;
(Lembrando que a Globo e quase todos os meios de comunicação tradicionais foram duramente atacados pelo bolsonarismo entre 2019-2022; e isso pode tornar a acontecer numa eventual vitória de um candidato com apoio dessa corrente).
10) Por outro lado, é difícil prever que esses lados convirjam, face que: a) Bolsonaro só confia em si mesmo e, um pouquinho, em seus filhos. Logo, um candidato do “Mito” para realmente cumprir esse indulto e fechar o STF que declararia o indulto inconstitucional (e perseguir outros divergentes), haveria de ser um do clã; e b) os filhos da oligarquia são os que estão nos tentáculos do Estado, isto é, os que ocupam as instituições de poder da República, como é o caso de Xandão (por exemplo, além de outros), e estes não querem a fumaça do bolsonarismo incensando nova tentativa de Golpe ao risco de tirar seus privilégios [considerando ainda que, vez e outra, também defendem a democracia];
11) Logo, o dilema de todos se resumiria assim: a) como Moraes e outros membros da oligarquia estatal e empresarial vão apoiar Tarcísio se Tarcísio é cria do bolsonarismo e o serve como membro fiel de uma seita?; b) como Bolsonaro vai apoiar Tarcísio se Tarcísio finge o tempo inteiro flertar com Xandão e outros da oligarquia rancenta ao bolsonarismo?; e c) como Tarcísio conseguirá provar lealdade simultânea a estes grupos que se detestam… mais que isso: são como água e óleo na partilha dos benefícios, regalias, recursos e privilégios que o Estado aparelhado pode oferecer?;
12) Resumindo: para reunir os votos suficientes [em Tarcísio] a fim de derrotar a esquerda, somente é possível numa condição: um pacto temporário entre “hienas” e “leopardos”; todavia, uma vez vitoriosos, a briga fratricida entre estes dois “bichos” pelas presas do Estado será devastadora.
Confesso que não consigo imaginar quem seria a primeira vítima de fato da traição de Tarcísio. Alguém aí ele vai ter de trair para sobreviver…
………….
[1] É fundamental afirmar que este título do artigo tem um sofisma e uma proposição lógica. O sofisma é que, funcionalmente, um membro do STF não pode se “partidarizar”, isto é, apoiar publicamente um candidato. A proposição lógica é que, implicitamente, um membro do STF trabalhar por uma ideologia e cria o ambiente político favorável para que certa visão estruturante se determine, mesmo que temporalmente, na sociedade.
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