Por Fernanda Brandão (foto), coordenadora de Relações Internacionais da Faculdade Mackenzie Rio
Nos dias 28 e 29 de abril, os sherpas dos países BRICS+ se reuniram no Rio de Janeiro em um encontro com o objetivo de costurar as principais temáticas a serem incluídas na declaração que será debatida nas reuniões de cúpula que acontecerão nos dias 6 e 7 de julho de 2025. Os sherpas são representantes diplomáticos dos países membros que são escolhidos pelos governos de seus países a fim de liderarem as posições do país nas negociações que antecedem as reuniões de cúpula. O termo se refere aos guias de escalada nas montanhas do Himalaia. A reunião no Brasil é a primeira realizada após a inclusão dos novos membros (Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã) tornando-a um importante marco na história do clube. Participaram dos encontros países parceiros como Belarus, Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Malásia, Tailândia,
Uganda, Uzbequistão e Nigéria. No final do dia 29, foi lançada a declaração da presidência dos BRICS+.
Os BRICS surgiram em 2009 como um clube de cooperação e coordenação entre países em desenvolvimento com o objetivo de fortalecer a representatividade de países do Sul Global em foros multilaterais ao promover a concertação e coordenação de seus posicionamentos e demandas na arena internacional. O clube também se tornou um espaço de promoção e fortalecimento da cooperação sul-sul, ou seja, entre países exclusivamente do Sul Global. Seguindo esse objetivo, um dos principais temas advogados pela presidência brasileira do clube é a continuidade da demanda por reformas nas organizações multilaterais internacionais, incluindo o sistema ONU, com o objetivo de garantir maior representatividade aos países em desenvolvimento e menos desenvolvidos e tornar esse sistema mais eficiente e menos sujeitos a disputas de poder no sistema internacional. Os BRICS+ têm buscado consolidar seu papel de liderança na promoção da cooperação multilateral internacional diante de um cenário de aumento das tensões, competição e conflitos envolvendo os Estados Unidos e a Europa, que antes lideravam os espaços de cooperação multilateral internacional.
A declaração final da reunião de sherpas apresentada pela presidência brasileira também abordou temas como desenvolvimento sustentável, com os membros reafirmando seu compromisso com os Acordos de Paris e o Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima (UNFCC). O tema do desenvolvimento sustentável é de grande importância para a presidência brasileira dos BRICS+, uma vez que o país é o anfitrião da COP-30 que será realizada em novembro. Além disso, o governo brasileiro tem buscado retomar o papel de
protagonismo do Brasil nos regimes multilaterais ambientais lançando o país como um líder nas questões relacionadas ao meio ambiente.
Outra inovação que aconteceu durante a reunião dos sherpas foi que, pela primeira vez, representantes da sociedade civil dos países membros se encontraram com os representantes diplomáticos dos BRICS+ com o objetivo de apresentar demandas sociais. A iniciativa segue uma das prioridades da presidência brasileira, que é aumentar a participação da sociedade civil nesses foros a fim de que as demandas da sociedade sejam apresentadas de forma direta para os tomadores de decisão que os compõem. Além disso, o objetivo é promover maior intercâmbio cultural e entre os povos dos países membros dos BRICS+. O mesmo movimento foi característica da presidência brasileira do G20 que pela primeira teve o G20 Social voltado para a participação da sociedade civil e apresentação de demandas sociais pelos grupos representados.
Paralelamente, em Brasília, representantes dos países BRICS+ se reuniram para fortalecer a cooperação espacial intrabloco. O objetivo é promover a redução das assimetrias tecnológicas entre os países membros, promover o uso sustentável do espaço e avançar a Constelação Virtual de Satélites de Sensoriamento Remoto
do BRICS, que configura o compartilhamento de dados obtidos por satélites já em órbita espacial que sejam dos países membros.
As reuniões dos BRICS+ acontecem em meio a importantes tensões envolvendo os países membros, como a Guerra na Ucrânia, o aumento das tensões entre Índia e Paquistão após um ataque terrorista na região da Caxemira, a pressão para a contenção do arsenal nuclear do Irã por um acordo nuclear e o conflito no Oriente Médio, que conta com suporte direto do país ao Hamas e ao Hezbollah. Na reunião dos sherpas, o embaixador Mauro Vieira ressaltou a importância de um fim ao conflito na Ucrânia e ressaltou a proposta apresentada por China e Brasil para que se alcance um fim do conflito iniciado pela invasão russa da Ucrânia. O ambiente de conflito e de tensão internacional é um empecilho para a promoção efetiva da cooperação entre os países membros uma vez que redireciona o foco dos países para questões de segurança, além das perturbações que os conflitos causam nos fluxos de comércio e de capital internacionais.
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