(Bloomberg) -- A posse de Donald Trump promete inaugurar uma era de turbulência no comércio global, obrigando governos ao redor do mundo a se mobilizar para enfrentar uma enxurrada de tarifas, mesmo antes de seu retorno à Casa Branca.
Logo após as ligações para parabenizar o presidente eleito por sua vitória em 5 de novembro, autoridades começaram discretamente a buscar maneiras de acalmá-lo, enquanto simultaneamente traçavam estratégias de retaliação, caso necessário.
A ameaça à China é de longa data, o que significa que seus líderes tiveram tempo suficiente para preparar defesas e estratégias retaliatórias. No entanto, desta vez, Trump e os defensores do comércio protecionista que ele recrutou estão ampliando seu escopo no que ameaça ser uma guerra comercial mais prolongada e imprevisível do que durante sua primeira presidência.
O México e o Canadá têm suportado grande parte do peso das ameaças comerciais de Trump desde o dia da eleição, levando líderes de ambos os vizinhos americanos a alertar publicamente sobre retaliações. Outros países estão se preparando nos bastidores — autoridades do Vietnã prometeram comprar mais produtos dos EUA e a União Europeia reforçou sua capacidade de combater tarifas, enquanto autoridades indianas buscam negociar seu caminho em meio a tempestade que se aproxima.
“A política comercial de Trump 2.0 parece muito mais radical em comparação com a 1.0”, diz Yeo Han-koo, pesquisador sênior para Economia Internacional no Peterson Institute e ex-ministro do Comércio da Coreia do Sul. “É como um dilema do prisioneiro — o melhor cenário para todos esses países é se unir e depois resistir, mas há uma motivação para cada país correr para obter um acordo melhor em comparação com seus concorrentes.”
Se implementadas, as ameaças de Trump de aumentar as tarifas sobre produtos chineses para 60% e para 20% para o resto do mundo transformariam a estrutura dos fluxos comerciais globais para longe dos EUA, de acordo com a Bloomberg Economics.
Nos bastidores
No México, a presidente Claudia Sheinbaum alertou sobre o impacto na inflação dos EUA em resposta às ameaças de tarifas de 25% de Trump. O país vem silenciosamente implementando uma estratégia para reduzir a dependência da China. Desenvolvido nos últimos meses, o plano do governo inclui consultar grandes montadoras sobre o fornecimento de componentes em outros lugares.
No Canadá, o primeiro-ministro Justin Trudeau procurou Trump dias após sua ameaça de tarifas de 25%. Como o país irá lidar com Trump virou uma incógnita com a renúncia de Trudeau. Nos bastidores, as autoridades examinam impostos de exportação nas principais commodities que envia para os Estados Unidos, em uma medida que elevaria os preços americanos.
Quando Trump decretou impostos sobre US$ 200 bilhões em importações da China em 2018-2019, o Vietnã foi um dos maiores beneficiários, pois as exportações para os EUA mais que dobraram. Até 16% do aumento somente em 2021 foi resultado do redirecionamento de mercadorias para evitar tarifas dos EUA sobre a China, de acordo com um relatório técnico da Harvard Business School.
Agora, o Vietnã — que tem o quarto maior superávit comercial com os EUA depois da China, México e Canadá — parece estar na mira de Trump. Seu conselheiro comercial Peter Navarro chamou o país pelo nome no Projeto 2025.
Ato de equilíbrio
A dependência crescente dos EUA como fonte de demanda torna economias como a do Vietnã mais expostas caso Trump decida aplicar uma tarifa universal em todas as importações, enfraquecendo o argumento comercial para a construção de novas fábricas. Além da China, economias como a Coreia do Sul, Taiwan, Malásia e Tailândia estariam mais expostas considerando sua alta orientação comercial, escreveram em nota economistas do Morgan Stanley, liderados por Chetan Ahya, em novembro.
Autoridades no Brasil parecem menos preocupadas com quaisquer tarifas dos EUA, acreditando que a nação pode aumentar as vendas para outros mercados, incluindo países asiáticos, caso seja alvo.
“As economias estão realmente presas entre a cruz e a espada de muitas maneiras”, disse Frederic Neumann, economista-chefe para a Ásia da HSBC Holdings, em Hong Kong. “É um curso muito, muito difícil de navegar para apaziguar as demandas dos EUA de se separar da China, mas ao mesmo tempo permanecer economicamente engajado com a China”, concluiu ele.
--Com a colaboração de Ruchi Bhatia, Ditas B Lopez, Francesca Stevens, Ntando Thukwana, Simone Iglesias, Maya Averbuch, Philip Heijmans e Chandra Asmara.
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