Sábado, 07 de Dezembro de 2024 18:22
(xx) xxxxx-xxxx
Geral Agro responsável

Produção de bioinsumos on-farm

Controle biológico de uma praga

12/11/2024 08h53 Atualizada há 4 semanas
Por: Redação Fonte: CCAS
Décio Luiz Gazzoni, pesquisador da Embrapa Soja, membro da Academia Brasileira de Ciência Agronômica, Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS), CESB e ABCA; e Mariangela Hungria pesquisadora da Embrapa Soja, membro da Academia Brasileira de Ciência Agr
Décio Luiz Gazzoni, pesquisador da Embrapa Soja, membro da Academia Brasileira de Ciência Agronômica, Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS), CESB e ABCA; e Mariangela Hungria pesquisadora da Embrapa Soja, membro da Academia Brasileira de Ciência Agr

Por Décio Luiz Gazzoni, pesquisador da Embrapa Soja, membro da Academia Brasileira de Ciência Agronômica, Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS), CESB e ABCA; e Mariangela Hungria pesquisadora da Embrapa Soja, membro da Academia Brasileira de Ciência Agronômica, ABC e ABCA.

Nas décadas de 1980 e 90, o Brasil dispôs do mais extenso programa de controle biológico de uma praga – a lagarta-da-soja, Anticarsia gemmatalis – em âmbito global, utilizando um vírus letal para a mesma. Esse vírus é altamente contagioso e eficiente, dizima a população da praga, dispensando inseticidas químicos, sendo inócuo para insetos benéficos e para animais superiores.

Continua após a publicidade
Anúncio

Entrementes, o programa foi vítima do seu próprio sucesso. Agricultores passaram a produzir o bioinseticida, coletando e conservando lagartas supostamente contaminadas pelo vírus, para aplicação na safra seguinte. Ao invés dos ótimos resultados anteriores, pipocaram relatos de ineficiência.

A investigação do insucesso demonstrou a péssima qualidade da produção própria. Nas palavras de um líder do programa: “havia tudo menos vírus nas amostras coletadas junto aos agricultores!”. Um exagero, porque havia uma pequena proporção de vírus, mas insuficiente para controlar a praga. Essa foi uma das causas do final precoce de um programa que tinha tudo para ser um case mundial de sucesso, beneficiando agricultores, consumidores e o meio ambiente até hoje.

Continua após a publicidade
Anúncio

Lição aprendida? Aparentemente, não.

Regulamentos de bioinsumos
Quatro décadas se passaram e os bioinsumos tornaram-se uma tendência mundial para solucionar alguns problemas da agropecuária, progressivamente substituindo a Química pela Biologia. Consentaneamente, foi instituído, no Brasil, o Programa Nacional de Bioinsumos (PNB) pelo Dec. 10.375 (26/5/20). Tramita na Câmara dos Deputados o PL 658/2021, que ratifica o PNB e dispõe sobre a classificação, o tratamento e a produção de bioinsumos por meio de produção própria (on-farm); no Senado Federal tramita o PL 3.668, que dispõe sobre a produção, o registro, comercialização, uso, destino final dos resíduos e embalagens, o registro, inspeção e fiscalização, a pesquisa e experimentação, e os incentivos à produção de bioinsumos para agricultura.

A definição de bioinsumos adotada nas normativas é genérica e engloba mais de uma centena de possíveis produtos de origem vegetal, animal ou microbiana com ação em setores variados da agropecuária.

Em relação a outros países, Argentina e Colômbia estão no mesmo patamar do Brasil, com programas de incentivo e normatização da matéria. Não há registros de programas similares nos EUA, onde vigora a produção comercial de bioinsumos seguindo a legislação genérica, ao contrário da Europa, onde o assunto é altamente regulado.
Recentemente a General Directorate of Health and Food Safety (DG Santé), que zela pela saúde pública e inocuidade dos alimentos na União Europeia, estudou os problemas ocasionados por microrganismos utilizados na agricultura, como Bacillus amyloliquefaciens e B. thuringiensis (Bt). Foram identificados impactos sobre a biodiversidade e contaminações em alimentos, o que também foi investigado no estudo de Bonis et al. (bit.ly/480IEKc). Os cientistas afirmam que o Bt foi detectado em 49 episódios de doenças por contaminação alimentar na França (2007-2017). Em 19 deles, o Bt foi o único microrganismo detectado, tornando-o o agente causal mais provável. Mais de 50% dos isolados de Bt foram coletados em vegetais crus, em especial tomate (48%). Esse estudo, e a preocupação da DG Santé, demonstram que bioinsumos podem apresentar riscos elevados e devem ser produzidos e aplicados com as melhores técnicas e o máximo rigor.

Problemas da produção on-farm
No Brasil, relatos preocupantes com sérias consequências da produção on-farm crescem a cada dia. Citaremos três exemplos ilustrativos:

1) Levantamento da Embrapa Milho e Sorgo em MT e GO sobre a produção on-farm de B. thuringiensis mostrou que a maioria das amostras não continha o Bt, mas proliferavam patógenos como Enterococcus faecalis e Acinetobacter baumannii, sendo este último considerado uma das mais sérias causas de infecções hospitalares, com resistência múltipla a antibióticos (bit.ly/3NCxgMu).

2) Em levantamento realizado pela Embrapa Soja com inoculantes (Bradyrhizobium e Azospirillum), coletados em cinco estados (RS, PR, SP, MT e BA), os microrganismos desejados não foram encontrados, com exceção de uma única amostra, em que estava presente o Azospirillum, em baixa concentração. Cabe destacar que o sucesso da soja brasileira se deve em grande parte à contribuição do processo de fixação biológica do nitrogênio, realizada pelo Bradyrhizobium, ausente em todas as amostras produzidas on-farm. Por outro lado, nos inoculantes on-farm analisados havia alta contaminação por diversos outros microrganismos indesejados, sendo um terço deles com alta e múltipla resistência a antibióticos (bit.ly/3RE4jB8), caracterizando um enorme perigo à saúde pública.

3) Estudo conduzido no Vale do São Francisco, com 12 amostras de cinco propriedades, detectou contaminação em 100% das amostras, 84% com coliformes totais, sendo 75% termotolerantes e 75% com Salmonella sp. (bit.ly/3TrtmJX).
Em síntese, os estudos mostram a probabilidade de baixa qualidade da produção de bioinsumos on-farm, além de riscos à saúde humana, que afetam diretamente o produtor e que podem conduzir a outros desdobramentos indesejáveis no mercado. O direito de produção própria solicitado por alguns setores agrícolas conflita com os direitos ao meio ambiente, à saúde humana e ao coletivo, se não houver a observância das Boas Práticas de Produção.
É praticamente impossível eliminar microrganismos introduzidos no solo e uma aplicação maciça de patógenos pode resultar em grandes problemas fitossanitários e impactos negativos no meio ambiente. Microrganismos não conhecem cercas, de modo que uma área vizinha poderá ser contaminada, ferindo o direito coletivo.

Os perigos da produção on-farm são ainda maiores ao preconizar que não seriam necessários assistência de profissional qualificado, controle de qualidade, licença ambiental e respeito à propriedade intelectual e industrial. Em relação a esses dois últimos itens, as implicações seriam de desestímulo à pesquisa por novos bioinsumos e no desinteresse em desenvolver ou introduzir inovações tecnológicas no Brasil, tanto por empresas privadas quanto por instituições públicas. Ou seja, poderia desestimular a atual adoção acelerada de bioinsumos, provocando um retorno aos insumos químicos tradicionais.

Para reflexão
Em absoluto somos contra a produção on-farm de bioinsumos. Deixamos claro que nossa intenção, com este artigo, é fomentar a discussão da necessidade de a produção de bioinsumos on-farm ser acompanhada de Boas Práticas de Produção, com severas medidas de segurança, garantindo que o agricultor tenha acesso a produtos de qualidade, que respeitam normativas de recursos genéticos, ambiental, de segurança do trabalhador, sendo produzido sob responsabilidade técnica de profissional capacitado e comprovação da qualidade do produto final, que beneficie o próprio produtor, os consumidores e o meio ambiente.

Sobre o CCAS
O Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS) é uma organização da Sociedade Civil, criada em 15 de abril de 2011, com domicilio, sede e foro no município de São Paulo-SP, com o objetivo precípuo de discutir temas relacionados à sustentabilidade da agricultura e se posicionar, de maneira clara, sobre o assunto.
O CCAS é uma entidade privada, de natureza associativa, sem fins econômicos, pautando suas ações na imparcialidade, ética e transparência, sempre valorizando o conhecimento científico.  
Os associados do CCAS são profissionais de diferentes formações e áreas de atuação, tanto na área pública quanto privada, que comungam o objetivo comum de pugnar pela sustentabilidade da agricultura brasileira. São profissionais que se destacam por suas atividades técnico-científicas e que se dispõem a apresentar fatos, lastreados em verdades científicas, para comprovar a sustentabilidade das atividades agrícolas.
A agricultura, por sua importância fundamental para o país e para cada cidadão, tem sua reputação e imagem em construção, alternando percepções positivas e negativas. É preciso que professores, pesquisadores e especialistas no tema apresentem e discutam suas teses, estudos e opiniões, para melhor informação da sociedade. Não podemos deixar de lembrar que a evolução da civilização só foi possível devido à agricultura. É importante que todo o conhecimento acumulado nas Universidades e Instituições de Pesquisa, assim como a larga experiência dos agricultores, seja colocado à disposição da população, para que a realidade da agricultura, em especial seu caráter de sustentabilidade, transpareça. Mais informações no website: http://agriculturasustentavel.org.br/. Acompanhe também o CCAS nas redes sociais:
Facebook:http://www.facebook.com/agriculturasustentavel
Instagram: https://www.instagram.com/conselhoccas/
LinkedIn:https://www.linkedin.com/company/ccas-conselho-cient%C3%ADfico-agro-sustent%C3%A1vel/

Nenhum comentário
500 caracteres restantes.
Comentar
Mostrar mais comentários
* O conteúdo de cada comentário é de responsabilidade de quem realizá-lo. Nos reservamos ao direito de reprovar ou eliminar comentários em desacordo com o propósito do site ou que contenham palavras ofensivas.
AgroNegócio
Sobre AgroNegócio
Aqui você vai encontrar notícias e artigos dos mais renomados comentaristas e gente do agro falando sobre o tema.
Jataí, GO
Atualizado às 16h05
30°
Tempo limpo

Mín. 19° Máx. 30°

31° Sensação
3.67 km/h Vento
48% Umidade do ar
0% (0mm) Chance de chuva
Amanhã (08/12)

Mín. 19° Máx. 30°

Tempo limpo
Amanhã (09/12)

Mín. 20° Máx. 30°

Tempo nublado
Anúncio
Anúncio
Anúncio
Ele1 - Criar site de notícias