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Comportamento Resíduos

Coreia do Sul recicla 97% de seus resíduos alimentares;

o segredo: ou você paga para reciclar ou é multado

10/10/2024 09h08 Atualizada há 3 meses
Por: Gideone Rosa Fonte: IGN Brasil
Tradição do banchan potencializa o desperdício de comida (Imagem: Bobby Palm/Flickr)
Tradição do banchan potencializa o desperdício de comida (Imagem: Bobby Palm/Flickr)

De 3% de reciclagem para 97% em quase 30 anos

Reciclamos há décadas e mesmo assim parece muito pouco. Há estudos que chegaram à conclusão de que não compreendemos bem como funciona a reciclagem, continuamos a cometer erros com os produtos que vão em cada embalagem e, se falamos de plásticos, as coisas são ainda piores. O mundo recicla menos de 10% do plástico que joga fora e até tiveram de ser implementadas campanhas para recompensar a boa reciclagem.

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E há problemas com a reciclagem em muitas áreas. Uma delas tem a ver com os resíduos alimentares que vão para a rua ou para aterros sanitários. A Coreia do Sul também teve problemas com isto, mas agora o Tigre Asiático recicla 97% dos seus resíduos alimentares. Mas como? A resposta é um sistema onde você paga um pouco para reciclar ou paga uma multa alta caso não faça da forma correta.

Estudos recentes indicam que cerca de 30% de todos os resíduos sul-coreanos são resíduos alimentares, mas que mais de 90% são separados e recolhidos de forma eficaz. Jae-Cheol Jang é professor do Instituto de Agricultura da Universidade Nacional de Gyeongsang e um dos autores do estudo, que disse à BBC que “cerca de 4,56 milhões de toneladas de restos de alimentos são processados ​​a cada ano na Coreia do Sul”. Destas, 4,44 milhões de toneladas são recicladas para outros usos, o que significa reciclar 97,5% dos restos.

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Objetivo: evitar aterros
Esses restos são utilizados para a produção de biogás, ração animal e fertilizantes, mas nem sempre foi assim. Estima-se que, em 1996, o país reciclou apenas 2,6% dos seus resíduos alimentares. Na década de 1980, a Coreia do Sul conheceu o aumento da industrialização, da urbanização e da gentrificação, criando o problema do que fazer com os resíduos num país com uma densidade média de mais de 530 pessoas por quilômetro quadrado.

Foram criados aterros próximos às grandes cidades, o que incomodou a população devido aos odores e resíduos, então começou uma campanha para acabar com o problema dos aterros. Isso levou à criação de uma lei em 2005 que proibia jogar restos de comida em aterros sanitários. O governo deu um passo em frente em 2013 com um sistema de cobrança por peso para o desperdício alimentar.

Pague para reciclar (ou pague ainda mais caro)
E não, não é que te paguem para reciclar como forma de incentivar a ação, mas pelo contrário. É o cidadão que deve pagar para reciclar e assim sentir no bolso para desencorajar o desperdício de alimento. Este é um desafio para um país onde, culturalmente, podem ser desperdiçados muitos alimentos que acabariam no lixo. E dissemos que é cultural porque existe a tradição do banchan.

Se você já foi a um restaurante sul-coreano, saberá que existe um prato principal que vem rodeado de muitos outros pratos como vegetais, carnes ou molhos diversos que servem para complementar esse prato principal. Com tantos pratos e alimentos, a probabilidade de muitos restos serem desperdiçados acaba sendo maior. E isso poderia ser tornar insustentável.

No que diz respeito à reciclagem e ao tratamento eficaz destes resíduos, os cidadãos têm três opções que variam consoante a região, o bairro ou mesmo entre diferentes blocos de apartamentos de uma mesma cidade. A repórter do serviço coreano da BBC, Yuna Ku, explicou melhor na matéria da BBC Mundo como funciona a três opções para reciclar os resíduos:

- Sacos autorizados: São sacos amarelos de cerca de três litros que custam cerca de 300 won – 20 centavos de dólar – e que, quando cheios de lixo, são levados à rua para serem recolhidos pelo serviço municipal. Há também sacos de 20 litros que custam US$ 1,50.
- Sistema automatizado: São máquinas de identificação por radiofrequência que estão nas ruas ou nos prédios e permitem pesar os resíduos alimentares. O usuário leva seus resíduos, coloca-o na máquina, pesa e esta lê automaticamente o código do cartão de residência da pessoa. Este cartão contém os dados de identificação da casa e também um sistema de crédito. Ao pesar os resíduos e depositá-los, o dinheiro referente será cobrado. Yuna afirma que costuma gastar menos de US$ 5 por mês nesse sistema automatizado de reciclagem.
- Adesivos: Essa opção é destinada a restaurantes. São adesivos pré-pagos que os restaurantes compram e colocam nos recipientes (de seus respectivos pesos) para que o serviço de recolha saiba que aquele lixo já foi pago. São nestes casos que o banchan acaba pesando mais na hora de reciclar as sobras de comida.

Multas para quem não cumprir
E o que acontece com quem não cumprir as regras? Yuna afirma que a população costuma cumprir (há dados sobre mudanças nos hábitos de reciclagem no país), mas se alguém não descartar os resíduos alimentares de forma autorizada, deverá pagar multa. Nos edifícios existem câmeras de segurança que identificam os vizinhos e as multas podem rondar os US$ 70, dependendo da frequência da infração.

No caso dos restaurantes, também existem câmeras, mas as autoridades podem ficar desconfiadas se verificarem que não está sendo jogado fora lixo suficiente. Neste caso, as multas podem ultrapassar os 10 milhões de won sul-coreanos, o que equivale a cerca de US$ 7 mil. Yuna comenta que os coreanos tendem a seguir as regras devido a um forte padrão moral e que, comparado ao salário médio, o pagamento pela reciclagem não é alto.

Desafios
Agora isso deixa dois desafios. Na Coreia do Sul, 49% dos resíduos são utilizados na alimentação de animais de criação e, se estes restos não forem processados ​​adequadamente, podem colocar em risco a saúde dos animais que posteriormente serão alimentados à população. É algo que já teve consequências, como o surto de peste suína que, em 2019, que levou o governo a proibir temporariamente rações alimentares feitas a partir de restos de comida.

Por outro lado, no resto do mundo tal sistema seria mais ou menos aceite dependendo do país. Imitar o sistema sul-coreano não seria o ideal e Rosa Rolle, especialista em perda e desperdício de alimentos da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura, disse à BBC que estes hábitos seriam apropriados para sensibilizar a população. No entanto, considera que nos países latino-americanos, por exemplo, a ênfase deveria ser colocada na maximização do aproveitamento dos alimentos, na minimização do desperdício ou na doação do que sobra, por exemplo.

Em qualquer caso, se este tipo de medidas forem aplicadas, segundo Rolle, “devem se basear em dados sólidos para compreender onde, por que e em que quantidade ocorrem perdas e desperdícios. As soluções devem se basear em evidências científicas e ser adequadas ao contexto. Não existe um modelo único para todos”.

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