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Geral Futuro

Demanda futura de produtos agrícolas: um cenário

Em decorrência da conversão de habitats nativos para diversas atividades econômicas, está ocorrendo uma extinção de espécies, afetando a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos.

03/07/2024 17h54
Por: Gideone Rosa Fonte: CCAS
Décio Luiz Gazzoni, engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja, membro do Conselho Científico (CCAS) Agro Sustentável e da Academia Brasileira de Ciência Agronômica 
Décio Luiz Gazzoni, engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja, membro do Conselho Científico (CCAS) Agro Sustentável e da Academia Brasileira de Ciência Agronômica 

Por Décio Luiz Gazzoni

            A população mundial continuará crescendo, até 2050. Até lá aumentará também a renda per capita, em especial os recursos das famílias disponíveis para aquisição de alimentos. Assim, haverá uma crescente procura de produtos agrícolas, como alimentos, fibras e madeira, o que representa um grande desafio ambiental a ser equacionado. Conforme o Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC), para manter o aumento da temperatura global abaixo de 1,5°C impõe-se o rápido fim do desmatamento líquido e, ao reverso, o aumento do reflorestamento, além da redução da velocidade de expansão da fronteira agrícola.

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            Em decorrência da conversão de habitats nativos para diversas atividades econômicas, está ocorrendo uma extinção de espécies, afetando a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos.

            Os cenários que satisfazem as necessidades alimentares futuras e os níveis esperados de aumento da procura de fibras e madeira – sem conversão adicional ou perturbação líquida das florestas mundiais – são provavelmente possíveis, mas altamente desafiantes. Isso inclui aumentar a produtividade sustentável da agricultura, recuperar terras, restaurar florestas e outros habitats nativos para fornecer biodiversidade e armazenar carbono, o que exige implementar ações sem precedentes, baseadas em progresso tecnológico e determinação política.

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Expansão da área agrícola

            Um relatório produzido pelo World Resources Institute (bit.ly/4brVqmq) demonstra que quase metade de todas as terras do planeta, com algum grau de aptidão agrícola, já foram convertidas, e 60-85 por cento das florestas restantes sofreram alguma forma de interferência. Essas mudanças são os principais impulsionadores da perda de biodiversidade e contribuíram com 25-33% das emissões de carbono lançadas à atmosfera, em períodos recentes.

            De acordo com os dados da Global Forest Watch (gfw.global/3PugoXJ), desde o ano de 2000 ocorre, anualmente, uma perda de 15 Mha de cobertura florestal. Parcela ponderável é convertida para agricultura, conforme mostra um estudo com dados de satélite, conduzido pela equipe do prof. Potapov (Universidade de Maryland), publicado na revista Nature (bit.ly/4dze2T9).

            O estudo mostra que a conversão líquida da vegetação nativa remanescente, para uso por culturas anuais, aumentou de cerca de 5 Mha/ano (2004 a 2007) para 10 Mha/ano (2013 a 2019). Ademais, os autores observaram expansão de culturas perenes superior a 1 Mha/ano. Devido às limitações nas leituras dos satélites nas áreas de pastagens, a sua expansão é incerta, o que levou os autores a sugerirem que mais carbono está sendo emitido e mais biodiversidade está sendo perdida, devido à conversão de áreas nativas para pastagens.

Se nada mudar...
            ... a crescente procura de alimentos deverá conduzir à incorporação de mais 600 Mha à agricultura, entre 2010 e 2050, em virtude do aumento estimado de 50% na demanda de produtos agrícolas. No cenário elaborado pelo WRI (bit.ly/4dscnPf), a demanda de calorias crescerá 56% durante esse período, e a procura de carne e lacticínios em 68%.

            No cenário do WRI, se a produtividade da agropecuária continuar crescendo nas taxas históricas (1960-2010), as terras agrícolas se expandirão em cerca de 200 Mha (5 Mha/ano) e as áreas de pastagens em 400 Mha, entre 2010 e 2050. Esses 600 Mha de expansão representam quase o dobro do tamanho da Índia.

            De acordo com o cenário, a expansão agrícola à custa das florestas e das savanas, juntamente com a degradação contínua das turfeiras, libertaria cerca de 240 GtCO2 eq na atmosfera nos próximos 40 anos, ou 6 GtCO2 eq por ano. Esses valores representam quase 40% do total de emissões de dióxido de carbono, calculados para limitar o aquecimento a 1,5°C – 2°C (bit.ly/4bsJY9V), entre 2010 e 2050.

Agir já

            O Brasil pode se tornar o grande modelo para outros países, a fim de evitar um colapso do tipo desastre anunciado. Em nosso país, preservamos quase dois terços da vegetação nativa do país, um quarto dela nas propriedades agrícolas, à custa do agricultor. Utilizamos apenas 7% do território para produção agrícola. Temos opções altamente sustentáveis, como tecnologia que incrementa a produtividade líquida da agropecuária, em altas taxas; a utilização da mesma área para duas ou três safras/ano; o uso de tecnologias como a integração lavoura-pecuária-floresta; e a recuperação de áreas degradadas, entre outras.

            Poucos países de importância agrícola possuem tantas alternativas. E aí está o busílis da questão: aplicando as receitas acima, o Brasil se torna cada vez mais competitivo no mercado internacional de produtos agrícolas. E isto gera uma reação muito forte de concorrentes de outros países – como os protestos dos agricultores europeus, ocorridos no final de 2023 e início de 2024, pedindo restrição às exportações brasileiras e a não assinatura do acordo comercial com o Mercosul.

            Nesse caso o desafio não é mais tecnológico, é geopolítico. Convencer a Europa e outros países protecionistas a abrirem mão de subsídios e protecionismos, para o bem da Humanidade será uma tarefa árdua. Assim como será difícil convencer consumidores europeus – com renda per capita superior a US$50.000,00 – que pagar mais caro por produtos da agricultura orgânica custa mais caro ainda para o mundo, pois a produtividade da agricultura orgânica pode ser até 54% inferior à convencional (bit.ly/44zq8HK), exigindo o dobro de expansão de área para obter a mesma quantidade de produto agrícola.

            Hércules encontrou mais facilidade para cumprir seus sete trabalhos!

 

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