Décio Luiz Gazzoni e Miguel Alves Pereira Jr.
Associar nutrição e saúde – os alimentos funcionais - é uma ilação óbvia, tanto que não se trata de algo efetivamente original. Muitos alimentos, tradicionalmente consumidos pela população, possuem características interessantes sob o ponto de vista da saúde, respaldadas por conhecimentos empíricos a respeito de suas propriedades. Nos últimos 30 anos, foram realizados muitos estudos para entender os alimentos funcionais e estabelecer suas propriedades.
Dispondo de maiores informações, tanto sobre o efeito benéfico de determinados alimentos, quanto sobre os malefícios causados pela exposição a inúmeras substâncias inerentes à vida moderna – presentes ou não nos alimentos – o cidadão passou a conferir maior importância a alimentos contendo substâncias benéficas à saúde. Em especial, contribuiu para a maior aceitação dos alimentos funcionais, a associação entre esses e a redução dos riscos das principais causas de mortalidade nos países ricos, que são: acidentes cardiovasculares, câncer, acidentes vasculares-cerebrais, arteriosclerose e enfermidades hepáticas.
Ação dos alimentos funcionais
Mas os benefícios não se restringem à redução de riscos de doenças. Existem propriedades benéficas providas por substâncias presentes nos alimentos, que possuem ação específica sobre determinados processos fisiológicos ou bioquímicos do organismo humano. À guisa de ilustração, examinemos o caso dos hormônios estrogênio e progesterona, associados com o sistema reprodutor feminino, um dos temas que mais vem sendo estudado pelos pesquisadores de alimentos funcionais.
Os hormônios atuam no organismo através de ligações semelhantes a conexões elétricas. A “tomada” no organismo é chamada de receptor, que são proteínas existentes nos órgãos onde os hormônios devem atuar. Assim como existem diversos padrões de conexões entre plugs e tomadas, isto também ocorre entre os hormônios e seus receptores. Apenas quando a conexão é perfeita o hormônio manifesta sua ação.
Por exemplo, no caso dos estrógenos, as células do útero, do ovário, da mama e de outros órgãos possuem proteínas receptoras, onde o hormônio se liga, a fim de poder cumprir sua função bioquímica ou fisiológica (l1nq.com/Z0JyK).
Sob determinadas condições, o hormônio causa danos às células, podendo atingir o DNA. Alterações na estrutura do DNA, à semelhança de mutações, tem alto potencial carcinogênico (bit.ly/3sHNjRz). Dessa maneira, proteínas estrutural e funcionalmente diferentes podem ser expressas, afetando as respostas celulares, como a do receptor hormonal.
Existem substâncias, como as isoflavonas, que se assemelham, estruturalmente, aos hormônios e podem se ligar aos receptores. Elas atuam como estrogênios “fracos”, que se ligam aos receptores hormonais e, como possuem baixa atividade, seu efeito sobre o código genético é nulo. Por exemplo, alimentos que contenham em sua composição linhaça (l1nk.dev/xjmIm) ou soja (l1nq.com/QBeai) possuem esse efeito, o que lhes confere a propriedade de prevenir ou reduzir o risco de ocorrência de determinados tipos de tumores malignos.
Climatério e menopausa
Quando seus ovários reduzem a produção de estrógeno e progesterona, as mulheres ingressam no climatério, período em que os ciclos menstruais ficam irregulares até cessarem completamente (bit.ly/45GmjjT). Com a interrupção da menstruação, as mulheres ingressam na menopausa. Esse processo é permeado por sensações desconfortáveis, como os “fogachos”, que são ondas de calor, acompanhadas de sudorese, que podem durar até 30 minutos. Também surgem suores noturnos, ressecamento vaginal, diminuição da libido, incontinência urinária, dores de cabeça, alterações da pele e cabelos, insônia, cansaço, obesidade, redução da massa óssea, perda de massa muscular, entre outros.
Os sintomas físicos podem ser acompanhados de lapsos de memória, nervosismo, irritação, depressão, ansiedade, tensão e mau humor. Embora o climatério seja um processo normal, pelo qual todas as mulheres passam, os sintomas a ele associados demandaram muitos estudos médicos para a melhoria da qualidade de vida das mulheres durante o climatério e a menopausa. Existem diversos alimentos funcionais, que podem reduzir o desconforto causado por esses processos, sendo a soja o mais importante deles (l1nq.com/ELoR9).
Escusado lembrar que o exposto neste artigo são generalidades, de caráter meramente informativo, havendo variações sensíveis entre indivíduos. Por essa razão, a indicação precisa de alimentos funcionais, para que a pessoa possa obter os benefícios deles esperados, sempre necessitará da análise e do acompanhamento de médicos especializados no tema.
D. L. Gazzoni, CREA 18.838, é engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa, membro do Conselho Científico Agro Sustentável e da Academia Brasileira de Ciência Agronômica.
M. A. Pereira Jr, CRM PR 10768, é médico em Londrina, PR.
Sobre o CCAS
O Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS) é uma organização da Sociedade Civil, criada em 15 de abril de 2011, com domicilio, sede e foro no município de São Paulo-SP, com o objetivo precípuo de discutir temas relacionados à sustentabilidade da agricultura e se posicionar, de maneira clara, sobre o assunto.
O CCAS é uma entidade privada, de natureza associativa, sem fins econômicos, pautando suas ações na imparcialidade, ética e transparência, sempre valorizando o conhecimento científico.
Os associados do CCAS são profissionais de diferentes formações e áreas de atuação, tanto na área pública quanto privada, que comungam o objetivo comum de pugnar pela sustentabilidade da agricultura brasileira. São profissionais que se destacam por suas atividades técnico-científicas e que se dispõem a apresentar fatos, lastreados em verdades científicas, para comprovar a sustentabilidade das atividades agrícolas.
A agricultura, por sua importância fundamental para o país e para cada cidadão, tem sua reputação e imagem em construção, alternando percepções positivas e negativas. É preciso que professores, pesquisadores e especialistas no tema apresentem e discutam suas teses, estudos e opiniões, para melhor informação da sociedade. Não podemos deixar de lembrar que a evolução da civilização só foi possível devido à agricultura. É importante que todo o conhecimento acumulado nas Universidades e Instituições de Pesquisa, assim como a larga experiência dos agricultores, seja colocado à disposição da população, para que a realidade da agricultura, em especial seu caráter de sustentabilidade, transpareça.
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